Pular para o conteúdo principal

Total de visualizações de página

O CONDE DE MONTE CRISTO E A NOVELA DA GLOBO



O post de hoje foi umas sugestão de Carla, minha mulher, depois de acompanhar a discussão sobre a novela das nove no Facebook. Mas o que tem a ver o romance de Alexandre Dumas com a novela de Walcyr Carrasco? Tudo e nada! Explico.

A trama da novela chupa sim no romance de Dumas, que por sua vez tratou livremente de uma história da vida real, de um sujeito chamado Pierre Picaud, está tudo na Wikipédia, vejam lá. O livro conta a história de um marinheiro que foi preso injustamente e na prisão conhece um clérigo de quem fica amigo, quando este morre o marinheiro escapa da prisão e toma posse de uma misteriosa fortuna. Pronto, aí está a trama que é a mesma da novela, uma moça presa num hospício injustamente e que lá conhece uma senhora etc etc. Até a paisagem da prisão é parecida com a do romance, que já virou filmes e novelas pelo mundo afora. 

A criatividade, a originalidade de um dramaturgo, novelista, romancista, não está no tema que escolhe para trabalhar, mas na forma como isso é feito. 

Os americanos depois de muito estudarem estabeleceram o conjunto de 32 temas, ou tramas, que podem ser desenvolvidos. Isto é, todas as histórias já contadas estão dentro de algum desses 32 temas, ou na interseção entre eles. Isto quer dizer que todas as histórias já foram contadas, a originalidade que reconhecemos hoje num autor é a forma como ele desenvolve sua história. 

Não podemos condenar Shakespeare por ter chupado as tramas de Romeu e Julieta e do Hamlet de histórias que já existiam, ele é Shakespeare exatamente por ter feito suas obras do jeito que fez que tem tudo a ver com as tramas preexistentes, mas que são obras inteiramente novas. 

Ariano Suassuna foi interpelado por alguém que sabia que ele havia tirado a trama de O Auto da Compadecida de três cordéis, e lhe perguntou afinal o que ele havia feito, ao que ele respondeu: fiz a peça. Você que conhece os cordéis identifica na dramaturgia as histórias, mas está diante de uma obra inteiramente nova. 

As próprias novelas se você verificar direito vai ver que são praticamente remakes umas das outras, as histórias de uma novela, tramas, personagens, vilões, mocinhos, às vezes estão no ar ao mesmo tempo, na mesma emissora, em situações semelhantes, cópias uma das outras, mas você não acusa um ou outro por ter copiado.  

Acontece ainda a possibilidade de um autor no Brasil estar fazendo a mesma trama que está sendo desenvolvida por outro autor no Japão, ou na Itália, sem que nenhum dos dois tenha conhecimento da história um do outro, apenas porque as tramas estão dentro daquela grade identificada pelos americanos, situações possíveis a que me referi acima. Não é o caso da novela atual de que estamos tratando. 

Agora vem o mais importante, o que o público de novela, de livro, de cinema, procura, não é originalidade, mas o igual de forma diferente. O público sempre procura ver o que já viu, o que conhece. Nós todos somos assim, queremos o mesmo do mesmo, mas de forma que nos surpreenda de alguma forma. 

A originalidade mesmo está nos clássicos, não importa a idade deles. Está em Sófocles que viveu há 2.500 anos, está em Shakespeare, que viveu há 400 anos, está em Goethe, que viveu há quase 300 anos, está em Chaplin, gênio do Século XX. O resto é remake com alguma originalidade quando é possível. Mas sem eles a vida não teria a menor graça. Enchemos nossas vidas com as emoções e o humor dos clichês, das cópias, nos deleitando quando nos oferecem alguma coisa que nos surpreende, na trama, num personagem, na performance de um ator.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AVELOZ NA CURA DO CÂNCER

Aveloz é planta conhecida como dedo do cão, dedo de anjo, graveto do cão, canela de frade, cega-olho, figueira do diabo, árvore de São Sebastião e gaiolinha, entre outros apelidos. Cientistas e médicos brasileiros estão testando em humanos o potencial da planta no tratamento do câncer.

30 ANOS DEPOIS

Trinta anos depois volto a trabalhar com Bia Lessa, desta vez na sua visceral adaptação do épico de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas .

O QUE O DINHEIRO NÃO PODE COMPRAR?

D inheiro compra até amor verdadeiro , disse Nelson Rodrigues, nosso maior dramaturgo, jornalista e frasista dos melhores, mas Nelson não era rico, falou sem conhecimento de causa, mesmo que tivesse perscrutado o mais recôndito de nossas almas e tivesse observado como poucos a vida social, mas ainda assim, não teve dinheiro para comprar tudo. Lembrei-me de sua frase depois de ler o que escreveu John D. Rockefeller, em 1909, este sim, o primeiro bilionário de verdade dos Estados Unidos, escreveu ele: a novidade de ser capaz de comprar o que quiser passa rápido, porque o que as pessoas mais procuram não pode ser comprado .

MEU PAI

Não conheci meu pai, ele morreu me deixando com um ano e quatro meses e meu irmão com seis meses, depois disso fomos morar com nossos avós maternos, nos criamos chamando nossos avós de papai e mamãe, e nossa mãe de Tetê, como todos a chamavam, mesmo sabendo que era nossa mãe. Hoje ela tem 90 anos e continua ativa fazendo o que quer, e sou feliz por isso. Seu Francisco, meu avô, substituiu meu pai e a família nos encheu de carinho para que não nos

DO TEATRO AO CINEMA

Aos amigos que sentiram minha ausência nessas sete semanas informo que foi por uma boa causa. Além das viagens que fizemos com a peça "Grande Sertão Veredas" nos primeiros quinze dias de setembro por Manaus (Festival Passo a Paço), Santos (Festival

MEU PERSONAL TRAINER

Personagem: Medeiro Vaz Foto de Lorena Zschaber De repente me vi obrigado por necessidade profissional a ter um corpo ágil e forte. Precisava enfrentar como ator a maratona que é o espetáculo Grande Sertão: Veredas . Convoquei meu filho Henrique e em poucos meses me vejo seguro para enfrentar os ensaios e apresentações do visceral espetáculo. O resultado disso foi que... - Aumentei minha força. - Aumentei minha massa muscular . - Melhorei minhas condições cardiorrespiratórias. - Tenho mais disposição. - Melhorei minha flexibilidade. Treinador Henrique Monteiro - Reorientei minha dieta, porque não adianta você se esforçar tanto fisicamente, se não compensar o desgaste de suas energias com uma dieta que mantenha as necessidades de seu novo corpo, novo corpo sim, mesmo que isso não fique claro para quem veja. Aprendi até a ingerir whey. Agora não para mais.